Ao me deparar com "O Sentido da Vida", escrito por um amigo, decidi abordar o tema da liberdade presente no texto.
O SENTIDO DA VIDA (Plínio Paiva)
Ao me perguntar sobre o sentido da vida, penso na evolução de um pássaro. Do ninho, ao encobrir-se em volta do ovo, lança-se aos ares, sem limites.
Na vida, somos convidados a eclodir e lançar para novas experiências. Somos convidados a sair da casca de nós mesmos, romper com aquilo que nos aprisiona.
Dessa forma, livres, sendo nós mesmos, estaremos preparados para galgar vitórias e conquistas. Qual o pássaro, nos libertamos para viver.
Não podemos esquecer, todavia, que o mesmo ovo que nos aprisiona é o ovo que nos prepara para a jornada. É nele que nos abrigamos e aquecemos para a vida.
Não é lícito, porém, desperdiçar a valiosa chance de lançarmos ao desconhecido. A vida é muito bela para ser desperdiçada e muito curta para ser entendida.
Ora, o que nos resta, pois? A escolha de nossa ação determinará nossa sorte: contentar-nos com a condição de embrião ou lançarmo-nos para os céus mais sublimes.
É bonito falar sobre liberdade e ao mesmo tempo é interessante quando o Plínio menciona a importância da casca do ovo que, em seus aportes, é prisão e é vital.
A sociedade vive momentos de exaltação da iniciativa, do imediatismo, do "atrever-se". É a cultura de que bom é "correr atrás", é viver o máximo de coisas que se quer enquanto há tempo. A frase "antes se arrepender do que fez a se arrepender do que não se fez" tornou-se mais que um mero ditado popular, mas uma filosofia.
Repito, é bonito falar sobre liberdade. Mas será que hoje O BONITO não é falar a respeito de liberdade?
A felicidade passou a ser associada a agir protamente, a experimentar mais coisas, a consumir, a sentir mais que raciocinar, a viver quantitativamente, a ser livre para "fazer o que der vontade".
No entanto, a ambigüidade se instaurou quando essa mesma sociedade passou a ser prisioneira dessa liberdade, porque aquele que não vive de acordo com esse padrão é considerado tímido, bobo, sem iniciativa, inapto seja para o mercado de trabalho ou para a conquista do sucesso tão aspirado no imaginário social.
Entendam que é impossível ser totalmente livre pois isso se configurará em um total aprisionamento.
O efeito do "libertismo" não é tão surpreendente na medida em que já é conhecida a expressão "o feitiço virou contra o feiticeiro".
O ideal social de libertação tem formado pessoas escravas da liberdade. São pessoas que realmente acreditam que sua sorte depende unicamente de suas ações e que por isso não devem desperdiçar nenhuma oportunidade.
Ora, se a ordem é se prontificar a buscar sempre, a ordem também será não se dar por satisfeito. E o que é satisfação? É algo diretamente ligado a felicidade. Qual é o fenômeno patológico atual? A depressão.
Claro! Se você crê que sua vitória depende exclusivamente de não desperdiçar nenhuma oportunidade, não se dá por satisfeito e não é feliz, de quem seria a culpa por seu fracasso? Sua!
Muito interessante, na verdade a questão principal e que a cultura do imediatismo em que a nossa sociedade esta imersa, de fato não considera o que há em torno das ações que tomamos. As implicações das nossas decisões, como elas hão de impactar nossa vida a posteriori. Na verdade o que importa é o resultado, o imageamento do sucesso, ou do fracasso, que expomos ao grupo social no qual estamos inseridos. Afinal, o produto acabado é que compõe o que representamos para o outro, seguindo esta lógica. Assim sendo, somos vitimas de nossa insaciável busca pelo sucesso, conforme você abordou tão bem no texto. E esse vitimismo é sádico, em essência. Pois, na busca por preencher os vazios, as ansiedades, a necessidade não de ser, mas de ter, abre-se mão do individual, do marcante, da unicidade em prol de um “modelo” dito ideal, e que falseia as mentes mais incautas prometendo sucesso imediato. Esse processo de resignificação, talvez seja o ponto alto do sadismo, pois o individuo passa a ser parte de um todo, segue idéias que não são as dele, sai do calor de sua casca para fazer parte de uma teia onde, ele supõe que terá mais sucesso. Porem nem sempre esse modelo considera o eu, você, o nós. Ele se aplica a padrões gerais, neste ponto reside à incoerência. Pois ao não se considerar as unicidades dos indivíduos, os ecos da alma gerados por esses novos vazios, gritam cada vez mais forte. Ai, o desespero, trás a sensação de impotência e de mais uma frustração. Não se obtêm o sucesso, não se preenchem os vazios, não se acalmam os anseios, perde-se personalidade, e no fim não se chega a lugar algum. É o típico efeito “boomerang” o individuo gira em torno do sucesso, expulsando sua individualidade para longe, sem mesmo sair do lugar, apenas alimentando este ciclo vicioso com a energia gasta ao girar...
ResponderExcluirAcho quê a sociedade consumista impõe regras de convivência e se afunda na sua cultura do ter, tornando o indivíduo que não tem nefasto e excluso. portanto o fracasso está diretamente ligado ao não reconhecimento por parte do outro. por outo lado poderiamos até pensar em uma suposta liberdade pelo motivo de não mais fazer parte más, no entanto, continuamos angustiados e em alguns casos chegamos até a patologia, logo volto a pergunta inicial, o que é ser livre?
ResponderExcluirNicolás Utman dice:
ResponderExcluirEs así como llegamos al individualismo. Los avances del mundo en el que vivimos nos ha entregado todas las herramientas para elegir absolutamente acerca de todo, para valernos por nosotros mismos sin que tengamos la necesidad de mirar para el lado y ver qué es lo que ocurre a nuestro alrededor. Así es como llegamos a un individualismo que encierra a las personas en sí mismas y las hace despreocupadas por el resto. Ocurre que la sociedad postmoderna conduce a la indiferencia de masa, donde todo se banaliza, nada es estable, todo es efímero, hay un sentimiento de estancamiento y de que no se va a ninguna parte, que la sociedad no avanza a un futuro mejor. Lo nuevo, lo antiguo, es lo mismo, todo pierde su valor y sólo importa el momento presente y la máxima diversión que pueda obtenerse. En el fondo late un tremendo desencanto, un escepticismo frente a cualquier ideal. Todo se traduce en un debilitamiento del sujeto y una fuerte carencia de convicciones, apatía y cierta depresión. Como no hay ideologías se realzan las “mezclas”: mezcla los últimos valores modernos, realza el pasado y la tradición, revaloriza lo local y la vida simple, disemina los criterios de lo verdadero y del arte, legitima los criterios de la afirmación de la identidad personal conforme a los valores de una sociedad personalizada donde lo importante es ser uno mismo . Por supuesto que estas mezclas que se adaptan a lo que place a mi yo no tienen fundamento sólido alguno, no se apoyan en creencias serias. Se trata de una “cultura hecha a la medida”. Todo esto culmina en el narcisismo, que es un individualismo llevado a su máxima expresión. Pero este narcisismo se traduce en sujetos débiles, sin ideales, sin metas altas, que sólo buscan sentirse emocionalmente satisfechos, descuidando el intento de crecer y desarrollarse humanamente.
Es paradójico, pero completamente cierto la siguiente frase de Lipovetsky (2007): “nunca ha habido una sociedad que teniendo tanto, haya carecido de todo y es porque después de todo, estamos en la era del vacío”(p. 2).
Respondendo os comentários:
ResponderExcluirTalvez ser livre deva significar ser autêntico, no entanto como digo no texto não é isso que a nossa sociedade tem buscado. Concordo que "não fazer parte" possa trazer angústia, como disse no título do texto ninguém é 100% livre. É por isso que critico o culto à liberdade.
Muito bom debater sobre a liberdade. Nesses momentos, penso, temos a liberdade de opinar. Isso me faz livre, de alguma forma. Muito embora nossas opiniões não sejam compartilhadas por todos (e ainda bem), o fato de expressá-las ou simplesmente pensá-las é um convite feito ao outro. Quero dizer que posso aprender mais sobre mim mesmo a partir de pontos de vista de outras pessoas. Que bom Carla, que além de me fazer uma visita você marcou sua opinião. Que bom que há ainda pessoas preocupadas em deliberar sobre o que está aprisionado ou livre em nosso âmago. Quanto à satisfação e consequente felicidade, bem, isso dá uma boa discussão. Estamos acostumados a ouvir que a felicidade está dentro de nós mesmos ( a depressão talvez apareça como consequência de uma dificuldade em "encontrá-la"). Mas é esta busca constante que move o ser. Talvez ainda não estejamos muito certos do que estamos buscando, ou até mesmo se o que iremos encontrar é realmente o que preencherá os nossos vazios. Porém, acredito, a liberdade é uma boa ferramenta que me garante uma busca com sentido.
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